Ao observar a imagem de Helena Meirelles em uma foto se é imediatamente capturado pela objetividade de seu olhar e pelo tamanho de suas mãos. Os olhos, diretos, encaram a lente de frente. As mãos, grandes e rudes, contrastam com a magreza do corpo. A pele, enrugada, expõe os muitos anos vividos.
Ao ouvir Helena tocar, percebe-se que sua aparência é a perfeita materialização de sua música. Com fortes raízes fincadas na terra, seu estilo de tocar – o rasqueado – está na matriz da música mato-grossense.
Helena é, antes de tudo, uma sobrevivente. De aparência frágil e personalidade forte, descendente de índios brasileiros e paraguaios, teve na viola seu passaporte para o mundo. Helena tocava e cantava numa época em que a única voz que se ouvia era a dos homens e onde a razão ficava com aquele que não estava estirado no chão com uma bala no peito. Assim era o oeste brasileiro na primeira metade do século XX.
O passado de Helena não é o passado da artista. É o passado de uma mulher que foi lavadeira, cozinheira, prostituta, parteira, benzedeira, alcoólatra.
Helena mostra em sua música a força de seu caráter: esse que fez com que ela acreditasse que deveria crer no que sentia. E ela sentia que a viola era sua grande companheira, sentia que seus dedos dominavam suas cordas, que ali sua personalidade aflorava.
Por outro lado, retratar o mundo de Helena é retratar um mundo de ausências. Os companheiros de viola já se foram e a comitiva não passa mais pela porteira da fazenda onde ela, também, não mora mais. As fazendas se transformaram em hotéis, o gado é transportado em caminhões e, Porto XV – cidade da sua juventude – está embaixo das águas de uma represa. Esse passado, tão recente e tão pouco preservado, ainda está presente na memória e nas músicas de Helena.
Biografia
Nascida em Porto Alegre, Dainara atua desde 89 nas áreas de cinema e publicidade. Em 1996, começou a dirigir seus próprios filmes. Entre seus principais trabalhos como diretora destacam-se “Divagações num quarto de Hotel” (co-dirigido com Philippe Barcinski), programa produzido para a TV Francesa ARTE; os curtas documentários “Didier”, “Fanta”, “Jigar” e “Verônica”, que fazem parte do projeto Povos de São Paulo; o média-metragem “Oswaldo Cruz” e o curta de ficção “Um Homem Sério”,vencedor de diversos prêmios nos Festivais de Brasília e Gramado; entre eles o de “Melhor Filme”, pelo Júri Popular. Além disso, “Um Homem Sério” foi selecionado para diversos festivais internacionais como o Festival Internacional de Curta-metragem de Clermont-Ferrand, na França, e o Festival de Roterdã, na Holanda. Na publicidade, já dirigiu mais de 200 filmes. Atualmente trabalha na O2 Filmes. Em 2005 abriu a Elástica Filmes com sua irmã Tatiana Toffoli.